quarta-feira, julho 31, 2013

Ninguém aqui falou de "menos mãe"! Me deixa!






Eu fiz cesárea, mas não sou menos mãe!
Por Ana Cristina Duarte 


Você mulher, mãe, que teve uma cesariana (necessária ou não) quando teve seu(s) bebê(s), antes de mais nada queria lembrar que nós sabemos que você é uma mãe maravilhosa, competente, amorosa e tão boa quanto qualquer outra mãe boa. A via de parto não nos faz mais ou menos mães, mais ou menos mulheres, mais ou menos seres humanos. Eu tive uma cesariana há 15 anos, um parto normal há 12 anos, e me considero uma mãe boa o suficiente para ambos. E não amo um mais que outro.

Mas minha amiga, quando você ler uma mulher dizendo “O parto normal me fez mais mulher” ela não está dizendo que a tua cesárea te faz “menos mulher”. Ela quer dizer que o parto fez ela se sentir mais mulher do que ela se sentia antes, ou de que ela se sentia se ela tivesse feito uma cesariana. Ela não está criticando você ou as suas escolhas. Ela está comemorando suas próprias conquistas, só isso!Quando ela diz “quando eu dei à luz, eu me senti muito mulher, muito feminina, muito poderosa” ela não está dizendo que a gente, por ter feito cesariana, é menos mulher, menos feminina, menos poderosa. Ela está falando só dela, não da gente, entendeu?

Concordo que se ela entrar em qualquer terreno seu, e se dirigir a você como uma pessoa inferior, daí não tem jeito mesmo, a pessoa está sendo estúpida. Mas em geral não é isso que a gente vê. Eu não costumo ver mulheres “cesareadas” como nós, sendo acusadas de sermos mães de pior qualidade. A cesariana no Brasil já é uma realidade, eu e você fazemos parte da maioria esmagadora! Ela, a sua amiga que quis e/ou teve um parto bacana, ela é pequena minoria e apenas está feliz por ter conseguido atingir seu sonho.

Todos esses movimentos que a mulherada está fazendo pelo direito ao parto natural, direito ao parto em casa, não dizem respeito a você e às suas escolhas. Elas dizem respeito a elas! Em nenhum cartaz ou fala você verá escrito “Proíbam as cesarianas, proíbam as escolhas pelas cesarianas, proíbam as mulheres de optarem pelas cesarianas, não queremos mais cesáreas que salvem vidas“. Essas mulheres querem que todas as mulheres tenham a chance de experimentar o que elas viveram, caso elas assim o desejem. Nunca ninguém desejou que o parto normal, ou natural, ou domiciliar, venha a ser algo obrigatório.

Por outro lado, uma coisa é certa: quando essas mulheres “xiitas” veem um relato de cesariana onde a mãe disse que fez a cirurgia salvadora porque tinha pouco líquido, ou cordão no pescoço, ou pé na costela, elas comentam mesmo, elas falam que isso não é indicação de cesariana. Você também chiaria se alguém fosse fazer uma cirurgia de varizes preventiva porque um dia vai que aparece uma variz, então é melhor operar. Cirurgias desnecessárias são uma questão importante em termos de saúde pública.

Só que, amiga, entenda, ela não está dizendo que você é uma mãe inferior! Ela está dizendo que seu médico fez uma cirurgia que não era necessária, só isso. Em nenhum momento ela está te julgando incompetente por ter aceitado a cirurgia proposta pelo seu médico, ainda mais com essa ameaça de que o bebê vai morrer ou sofrer. Em outras palavras, ela apenas está dizendo que sua cesariana não teria sido feita em nenhum país onde a saúde é levada a sério. Só no Brasil se opera com essas desculpas, e daí chegamos nos 94% do Hospital Santa Joana, por exemplo. A questão é de população, não de você.

Via de parto é apenas isso: via de parto. Não diz nada de qualidade de maternagem. Suas amigas “xiitas do parto natural” sabem que você é uma boa mãe. Também sabem que o parto normal não garante uma boa mãe (e vice versa). Não se ofenda quando você ler um post no perfil da sua amiga dizendo: “Eu quero ter direito à escolha“. Ela está falando apenas dela, e não de você.

Quando você se sentir enraivecida com essas notícias, posts, relatos e matérias sobre parto normal, natural etc., olhe para dentro de você e tente entender porque é que você ficou tão brava, tão chateada, tão mexida. Eu já fiz esse exercício diversas vezes e descobri coisas incríveis. Não perca essa oportunidade.

Palavra de Parteira!

* Ana Cristina Duarte é obstetriz, ativista do movimento de Humanização do Parto e mãe de Julia e Henrique.

6 comentários:

  1. Oi Ju,excelente texto!
    Vejo tanta gente, meio q se metendo em dar palpites, e na realidade cada pessoa é diferente da outra.Então...... q não julguemos ninguém pela escolha ou opção q ela faça..... na hora aga, vai acontecer aquilo q for melhor para os dois, pq Deus está sempre no comando de td!
    Beijinhos!

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  2. Ju, adorei o texto. Meus dois partos foram normais, poderiam não ter sido! Acho que há um excesso de cesáreas, mas quase todo mundo que conheço a cesárea foi proposta pelo médico e cabe a parturiente aceitar ou não. Daí dizer que alguém é menos ou mais mãe por causa disso, já passa para assédio moral, por que o que está feito não tem reversão e não é a forma do parto que determina os cuidados que a mãe vai ter com a criança.
    bjs
    Jussara

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  3. Oi Ju,
    As pessoas tomam a coisa com muita pessoalidade, mas não é bem assim. eu fiz cesárea e não precisava. Fiz cesárea pq quis e não vejo nada errado no meu querer. Cesárea pode ser prejudicial á mãe, pois é uma cirurgia, mas nunca é prejudicial ao BB e, pelo sim e pelo não, eu quis garantir minha filha perfeita.
    Agora, tem um fato muito curioso nisto tudo... pergunte a um médico obstetra se a esposa dele fez parto normal ou cesárea, e a resposta será 100% cesárea. Sim, cesárea pode ser prejudicial para a mãe, mas médico nenhum arrisca o próprio filho.
    Tenha um ótimo restinho de semana.
    Bjs

    GOSTO DISTO!
    P.S.: Vou colocar o blog no meu blogroll, está muito interessante.

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  4. Sem dúvida o que faz a mãe é como ela ama e cria seu filho e não o momento do parto.

    Beijocas

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  5. Eu AMO esse texto, já compartilhei mais de 1 vez no fb! É exatamente isso, pega no ponto certeiro, e quem sabe ele ajude as mulheres com síndrome de #menas!? rs...

    Ju, estou lendo seus post e tá rolando uma identificação tão grande, coisa que não acontece a toda hora em qualquer blog! E isso enche meu coração de alegria! =)

    Um beijão enorme!

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  6. Vixe, errei tudo...de novo!
    Fiz dois partos normais e nunca me senti mais mulher por isso. Nem sabia que era esse o objetivo, ou um objetivo possivel.
    Fiz dois partos normais por que meu medico me garantiu GARANTIU que essa seria a forma de parir onde eu sentiria MENOS DOR.
    Isso mesmo. Em meio a tantas decisoes importantes, tantas discussoes filosoficas, tudo o que eu queria era a garantia de que essa empreitada não ia doer.
    Eu esqueci de pedir para que eu naos entisse dor quando as minhas filhas ralassem o joelho, ou tivessem o coração partido por naos erem aceitas no time de volley da escola. devia ter incluido isso na minha lista de exigencias, mas quando engravidei, a unica coisa que me angustiava ( por que todo o resto eram flores e cores) era o medo da dor. pavor de sentir dor.
    Pedi uma cesarea com anestesia geral, para acordar 5 dias depois, com tudo cicatrizadinho.
    E o meu médico (que eu descobri depois, é uma excessão na comunidade médica), me disse para parar de palhaçada, que a gente ia fazer parto normal por que doia MENOS.
    Eu, bobinha e marinheira de primeira viagem, não duvidei. Segurei a mão daquele desconhecido que me guiou e me orientou durante os nove meses da gravides. E que trouxe a minha filha ao mundo, com ocitosina e forceps (pq a bendita engastalhou e não queria nascer de jeito nenhum) , sem dor nenhuma. no segundo parto, já cheguei pedindo repeteco!

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GRITA COMIGO!!!

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